Por um tempo convivi junto a
um grupo de pescadores. E posso dizer com toda certeza, que vivendo com eles
aprendi coisas das quais jamais me esquecerei. A humildade foi a principal
delas. A alegria foi outra que não me esqueço. Pois, mesmo em meio às
dificuldades e os perigos enfrentados em águas que pareciam ser mansas, mas eram
traiçoeiras, em meio à raiva sofrida causada pelos botos que comiam os peixes e
não se davam conta de que a rede e a tarrafa não eram comidas, em meio ao
sofrimento pra conseguir fazer um fogo pegar em pleno inverno zangado e
amedrontador, e porque não dizer, em alguns casos tristes de despedidas que
pareciam não trazer mais o marido de volta.
Creio que eram assim que
algumas esposas pensavam quando viam seus esposos a sair sobre uma canoa em
cima de águas infinitas. E, diga-se de passagem: “era a parte mais triste pra
mim, muito sofrimento...” Mas, a vida precisava seguir seu curso. Afinal,
tristeza não sustenta uma família, o sustento da família existe através da
alegria. E só se pode existir alegria se houver dinheiro para comprar as coisas,
e esse dinheiro só se ganha trabalhando, ou melhor, no caso dos pescadores,
pescando. Era praticamente o tema, o mantra, a oração diária daquele grupo de
pescadores. Pescar.
E assim desciam as
águas na esperança de conseguir um grande cardume. Na maioria das vezes
conseguiam. Mas, em outras, nem uma piaba. E nesse período de escassez, a fome
rodava o barracão. Rodava entre aspas. Porque tinha a farinha e o feijão. Quer
dizer, eles tinham a farinha e o feijão, e eu, o arroz e o feijão. Nunca fui
muito amante de farinha. Risos... Entretanto, em tempo de fartura de peixes,
rolava a brincadeira a solta. Principalmente à noite. Era uma disputa sadia pra
ver quem comia o maior peixe e a maior quantidade de farinha. Eu só me
encaixava na categoria peixe. Isso noutro dia me dava uma dor de barriga
pesada. Risos... Mas, era tempo bom! Tão bom que jamais voltará! O que eu
achava melhor? Eram as histórias e a felicidade nos olhos de cada pescador após
as vendas das suas colheitas! Pois, um dizia que ia comprar um carro, outro
falava que ia reformar a casa, outro ia comprar um computador... Ou seja,
felicidades coletivas por estarem realizando sonhos! E quem não se sente assim,
feliz por realizar sonhos? Por conseguir o sustento da sua família através de
um trabalho honesto? Eram muitas felicidades! E eu? Só saudades!