quarta-feira, 22 de abril de 2020

Ribeirinhos as margens do rio Tocantins localizado no Município de Itupiranga no Estado do Pará provém o sustento da família por meio da pesca e ainda se divertem feito crianças ao brincarem de quem come mais peixe e farinha

Por um tempo convivi junto a um grupo de pescadores. E posso dizer com toda certeza, que vivendo com eles aprendi coisas das quais jamais me esquecerei. A humildade foi a principal delas. A alegria foi outra que não me esqueço. Pois, mesmo em meio às dificuldades e os perigos enfrentados em águas que pareciam ser mansas, mas eram traiçoeiras, em meio à raiva sofrida causada pelos botos que comiam os peixes e não se davam conta de que a rede e a tarrafa não eram comidas, em meio ao sofrimento pra conseguir fazer um fogo pegar em pleno inverno zangado e amedrontador, e porque não dizer, em alguns casos tristes de despedidas que pareciam não trazer mais o marido de volta.
Creio que eram assim que algumas esposas pensavam quando viam seus esposos a sair sobre uma canoa em cima de águas infinitas. E, diga-se de passagem: “era a parte mais triste pra mim, muito sofrimento...” Mas, a vida precisava seguir seu curso. Afinal, tristeza não sustenta uma família, o sustento da família existe através da alegria. E só se pode existir alegria se houver dinheiro para comprar as coisas, e esse dinheiro só se ganha trabalhando, ou melhor, no caso dos pescadores, pescando. Era praticamente o tema, o mantra, a oração diária daquele grupo de pescadores. Pescar.
E assim desciam as águas na esperança de conseguir um grande cardume. Na maioria das vezes conseguiam. Mas, em outras, nem uma piaba. E nesse período de escassez, a fome rodava o barracão. Rodava entre aspas. Porque tinha a farinha e o feijão. Quer dizer, eles tinham a farinha e o feijão, e eu, o arroz e o feijão. Nunca fui muito amante de farinha. Risos... Entretanto, em tempo de fartura de peixes, rolava a brincadeira a solta. Principalmente à noite. Era uma disputa sadia pra ver quem comia o maior peixe e a maior quantidade de farinha. Eu só me encaixava na categoria peixe. Isso noutro dia me dava uma dor de barriga pesada. Risos... Mas, era tempo bom! Tão bom que jamais voltará! O que eu achava melhor? Eram as histórias e a felicidade nos olhos de cada pescador após as vendas das suas colheitas! Pois, um dizia que ia comprar um carro, outro falava que ia reformar a casa, outro ia comprar um computador... Ou seja, felicidades coletivas por estarem realizando sonhos! E quem não se sente assim, feliz por realizar sonhos? Por conseguir o sustento da sua família através de um trabalho honesto? Eram muitas felicidades! E eu? Só saudades!